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Parentalidade na Quarentena

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Parentalidade na Quarentena

Parentalidade na Quarentena

Se forem como eu nestes dias de quarentena e confinamento têm tido alguns desafios em gerir o teletrabalho, as crianças, as lides da casa, a vida em família e a relação conjugal. Em simultâneo. E sim, normalmente já é uma gestão que temos de fazer, mas não em simultâneo e debaixo do mesmo teto 24h. Quase todas as pessoas com quem tenho falado: amigos, conhecidos, clientes que acompanho em sessões e programas de coaching ou formações, têm referido em maior ou menor grau essa dificuldade… outros há também que estão a adorar este tempo em casa, para melhorar relacionamentos e colocarem em prática algumas coisas que sempre quiseram, nomeadamente na área da Parentalidade Consciente (outros que fazem o contrário).

Claro, é sempre uma experiência subjetiva na medida em depende de vários fatores: a forma, perspetiva com que encaramos este período e as dificuldades inerentes, como o enquadramos, o significado que lhe atribuímos, a idade das crianças. Esta ultima assume uma importância grande na medida em que as crianças mais pequenas, como é o caso das minhas filhas com 2 e 4 anos. São bastante dependentes e não têm autonomia para fazer grande parte das tarefas diárias. E não conseguem perceber que os pais estão a trabalhar: afinal de contas estão ao telefone e ao pc, o que normalmente em casa significa lazer e não trabalho.

O oposto também acontece: adolescentes que se fecham nos quartos quase sem convívio com os pais e parece que vivem num mundo aparte.

 

Cuidar dos filhos passou a ser muitas vezes um trabalho a tempo inteiro quando dantes era feito em versão part time ou hobbie: 2 horas por dia e ao fim de semana se não fossem para os avós.

E isto é verdadeiramente desafiante quando não conseguimos terminar um telefonema, enviar um email, escrever um artigo, fazer uma publicação sem interrupções. A nossa capacidade de raciocínio esfuma-se, parece que o nosso cérebro às vezes é “feito de papa”. Eu sinto-me assim às vezes…. A privação de sono também não ajuda.

Cá por casa o consumo de ecrãs (para já só da tv) aumentou substancialmente. É a forma mais fácil que tenho de conseguir fazer alguma coisa enquanto estão entretidas a ver Panda. Por vezes é muito desafiante encontrar este momento (até porque muitas vezes significa estar a trabalhar com banda sonora de panda).

 

Há várias coisas a ter em atenção, mas para mim, o mais importante neste momento é gerir expectativas: não podemos esperar conseguir fazer tudo. Não vai dar. Não vamos dar conta do recado. Temos de nos focar naquilo que efetivamente conseguimos fazer, reduzir as tarefas para o minimo funcional possível, poupança de energia.

O que é que é realmente essencial fazer hoje? Foco-me aí. Sabendo que darei o meu melhor para o fazer, e se não conseguir, está tudo bem. Este é um mantra que normalmente me ajuda muito: está tudo bem. É o que é. Não deu. Há-de dar. Claro que nem sempre é fácil manter este mindset. Vou oscilando entre frustração e aceitação. Frustração por não conseguir fazer tudo a aquilo a que me proponho, frustração por não estar a conseguir estar tão presente quanto gostaria com as minhas filhas, frustração por às vezes a parentalidade consciente desaparecer da minha vida, frustração por apesar de estar 24h por dia com o meu marido, na mesma casa, nem sempre na mesma divisão, não conseguir ter uma conversa… E depois pratico o PORRA  (podes ver mais sobre isto nas nossas redes sociais) e lembro-me do porquê de todas estas escolhas, e vem o mantra: é o que é. E está tudo bem.

 

Por muito que queiramos as crianças pequenas não se vão entreter sozinhas, nem vão estar muito tempo a faz a mesma atividade. Quando há irmãos, pode facilitar, ou dificultar se houver conflitos entre eles.

Podemos também envolvê-los, escutá-los, distribuir tarefas, pedir a ajuda e opinião deles para resolução de problemas que surjam no dia a dia.

Aqui, para mim,  é importante a seguinte reflexão: Como é que nós vamos exigir de uma criança ou um adolescente que partilhe tempo ou pensamentos, decisões connosco se nós não partilhamos nada com eles? Um exemplo muito prático é quando os pais pedem aos filhos que partilhem como foi o dia na escola e ficam muito chateados ou admirados quando a resposta é curta e grossa: “Foi bom”. Ou “gostei”. “Sim”. “Não”.  Mas como as respostas poderiam ser diferentes? Se não têm nenhum exemplo para modelar, não ouvem os pais a falar acerca das frustrações do trabalho ou de como correu o dia de trabalho, o que aconteceu… As coisas boas, as aquisições aprendizagens que fizeram, as conquistas, etc.

Por aqui tem-se partilhado cada vez mais.

 

Têm-me questionado bastante acerca de que estratégias  utilizar para que tudo flua, para que consigam conciliar o teletrabalho com as crianças, a casa, a vida familiar e em casal. Eu não tenho fórmulas mágicas. O que eu sei é o que funciona melhor para mim para a nossa família. E o que funciona num dia, no dia seguinte já não serve, já não funciona. O diálogo deve ser uma constante e a flexibilidade também. A paciência, sem duvida.

Se é a melhor altura para trabalharmos tudo isto? Para alguns pode ser. Para outros não, especialmente se nunca trabalharam estes aspetos antes. Estas mudanças, a implementação de coisas novas/hábitos leva tempo. Requer treino, repetição, erros, avanços e recuos, e nem sempre estamos dispostos a isso.

E lá está, o que funciona uma vez não quer dizer que funcione mais vezes, ou o que funcionou durante uma semana ou mês de repente já não dá. Tenta-se outra possibilidade. Não resultou. Insistimos talvez um pouco, pode ser que resulte. Resultou, ótimo! Se não resultou depois de alguma insistência, é porque não é por aqui. Por exemplo, inicialmente,  tentamos estabelecer uma espécie de agenda ou de rotina cá em casa para conseguirmos gerir tudo, conciliar tudo… depois percebemos que não ia dar… que teríamos de gerir dia a dia. E por isso tenho dias de frustração e dias de aceitação.

O que acontece por vezes é que desistimos depois de só tentarmos uma estratégia uma vez: não resultou, pomos de lado. A persistência nestes casos pode ser uma grande aliada. Às vezes as coisas certas dão trabalho, às vezes seguirmos o nosso caminho, respeitando os nossos valores e tendo em conta a nossa intenção, requer esforço. Outras vezes percebemos logo à primeira que não é por aqui, não é? Nestes casos a intuição funciona quase sempre.

 

Todos estes fatores têm influência direta nos outros: o nosso organismo trabalha normalmente para a homeostasia, para o equilíbrio. Se eu não estou a conseguir trabalhar, e fico frustrada com isso, não vou estar com o estado emocional que desejava para lidar com as minhas filhas e com o meu marido, ou para tratar da casa. Se eu não consigo tratar da casa e ficam coisas por fazer e a casa está uma balburdia, em pantanas, eu não vou estar equilibrada o suficiente para trabalhar ou relacionar-me da melhor forma com as miúdas e com o meu marido. Se eu entro em conflito com o meu marido, não estou na minha melhor forma para lidar com todas as outras responsabilidades.

Conseguimos estar sempre equilibrados? Nem sempre. Eu não, pelo menos. Mas há sempre uma PORRA que se consiga fazer. Praticar o PORRA nestas alturas é essencial. Mas há alturas em que não há porra que me valha. Em que não consigo raciocinar, que nem percebo que tenho de Parar, quanto mais o resto do porra.  Por vezes não é possível agir no imediato. Mas é possível aceitar o que aconteceu, perceber o que aconteceu e pensar: o que é que é mais importante agora?

Isto ajuda não só a gerir expectativas, como também a priorizar as tarefas e refletir naquilo que estou a fazer, se está a ter os resultados que quero e caso não esteja o que posso alterar, acrescentar ou retirar para que isso aconteça.

E procurar ajuda, se for necessário. São tantas as pessoas que depois de estarem comigo num processo de coaching, psicologia, parentalidade consciente me dizem: “aaaaaaa estive tanto tempo a decidir vir cá, pedir ajuda e agora só lamento não ter feito mais cedo.” É importante também desmistificar isso: se não estão a conseguir lidar com este confinamento da melhor forma, ou da forma que desejariam, procurem ajuda. Não procurem ajuda só quando estiverem no limite ou com conflitos ou desafios muito grandes entre casal, com os filhos ou no trabalho.

 

Há dicas que são essenciais em qualquer altura, e que agora se tornam vitais: descansar, ter tempo para si, exercício físico, meditar, ler, relaxar, dançar, beber um copo de vinho, rir, ligar a alguém… Vamos a isso?

 

Nota: Este texto foi escrito em Maio e ficou perdido no meu PC… Acredito que vem sempre a tempo e espero que te consiga ajudar e inspirar.

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